Último filme da mostra de abril do Cineclube do CCBN, dedicada ao cinema italiano, Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci, procura resgatar o espírito revolucionário de maio de 1968. Para alguns críticos, o longa seria uma revisão crítica de Bertolucci em relação a sua própria geração
Último filme da mostra dedicada ao cinema italiano, Os Sonhadores (The Dreamers, ITA/FRA, 2003) é uma obra controversa. Muito se discutiu se o diretor Bernardo Bertolucci estaria realizando com a mesma uma revisão crítica sobre a sua própria geração (o que, em parte, é certo) e muito mais se criticou o longa, o que, em certos aspectos, é justificável, sobretudo em relação à fraca atuação do elenco principal.
Em entrevista disponível nos extras do DVD do filme, lançado há alguns anos no Brasil, há uma pequena entrevista com Bertolucci, no qual o diretor esclarece, ainda que de modo genérico, o que pretendeu com Os Sonhadores, que compõe a chamada trilogia parisiana – composta também por O Conformista (Il Conformista, ITA/FRA/ALM, 1970) e O Último Tango em Paris (The Last Tango in Paris, ITA/FRA, 1972): Bernardo declarou que pretendeu resgatar o espírito de uma época, agora distante, na qual a revolução era marcada pela liberação dos costumes e pela politização da arte, com papel privilegiado para o cinema, afinal, a arte moderna por excelência, em tempos onde a idéia de pós-modernismo nem pairava pelas respeitáveis cabeças da intelectualidade ocidental.
Levando isso em consideração, é possível entender tanto o estratégico lançamento do filme no festival de Sundance (dedicado ao chamado cinema alternativo), como seu caráter apoteótico. Cineasta que iniciou sua carreira no Neo-Realismo italiano e seguiu com o experimentalismo, Bertolucci chegou a acreditar que o cinema poderia mudar o mundo, juntamente com outros colegas de geração, como Jean Luc Goddard e Pier Paolo Pasolini. O tempo mostrou os limites da sétima arte, sobretudo no que se refere a sua relação com a vida social concreta, cujas mudanças não podem resultar do simples voluntarismo inspirado por uma bela obra artística. E é isso que o filme, de certa forma, coloca para o espectador.
O enredo gira em torno da relação entre os gêmeos franceses Isabelle (Eva Green) e Theo (Louis Garrel) e o estudante americano Mathew (Michael Pitt), em pleno 1968, iniciada pela paixão que o trio nutre pelo cinema e posteriormente evoluindo para um estranho envolvimento erótico. As experiências que consubstanciam a revolução na vida dos jovens são quase todas vividas no ambiente sufocante do apartamento de classe média dos pais dos gêmeos gauleses, intelectuais que sempre estão fora de casa. É nesse lugar, ao mesmo tempo confortável e lúgubre, marcado por referências ao cinema e por jogos sexuais que beiram a imbecilidade que se se dá a dinâmica entre os personagens, belos, sem dúvida, mas pouco carismáticos. É provável que Bertolucci, conhecido por não dirigir atores, tenha pedido aos membros do seu elenco que fossem apenas eles mesmos, o que resultou em muita afetação e pouca profundidade psicológica, com um pequeno desconto para Pitt, provavelmente o mais talentoso do trio principal de atores.
Um filme sem dúvida controverso, sobre uma época explosiva, e uma boa fonte de reflexão sobre um período histórico que ainda influencia mulhões de jovens ao redor do mundo. Uma boa pedida para uma véspera de feriado.
Ficha técnica
Os sonhadores (The DReamers, ITA/FRA, 2003), com Michael Pitt, Eva Green e Louis Garrel. 114 min.
Onde assistir
Terça-feira, dia 30 de abril, a partir das 17h, no Centro Cultural BNB – Rua Floriano Peixoto, 941, Centro. Haverá debate após a sessão.
Confira o trailer:
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